Quem passa pela Avenida Brasil, no Rio de Janeiro, nota o plantio de árvores no canteiro central. São 10 mil mudas de espécies nativas da Mata Atlântica, parte de projeto da prefeitura custeado com recursos provenientes de compensações ambientais, destinado a diminuir o impacto de obras.
Em outra direção da mesma cidade, as dunas de Ipanema estão sendo recuperadas e sua vegetação reposta com espécies de restinga, um projeto cuja segunda fase é patrocinada pela Grendene, sob a coordenação da Secretaria Municipal do Meio Ambiente.
Os dois projetos são executados pela Biovert, empresa de engenharia e tecnologia florestal com sede em Silva Jardim, no interior do Rio, onde mantém uma fazenda-viveiro de 770 hectares.
Sob a direção do engenheiro florestal Marcelo de Carvalho, a Biovert descobriu um dos melhores negócios nesses tempos em que a compensação ambiental obriga o setor público e privado a contrabalançar os impactos sofridos pelo meio ambiente com a implantação de novos empreendimentos.
Com uma produção anual de 3 milhões de mudas, a qual deve ser dobrada até 2014, a empresa cresce a uma média de 60% por ano e reinveste na capacidade de aumento da variedade de espécies nativas (atualmente são mais de 100). "Trabalhamos com grandes construtoras, companhias imobiliárias, prefeituras só no estado do Rio", diz Carvalho.
"Aumenta a demanda e também a procura por árvores de boa qualidade para garantir que a vegetação se perpetue e não seja apenas objeto de marketing."
Pouca disponibilidade
Carvalho conta que a Biovert integra a Rede Regional de Banco de Sementes, sendo a primeira empresa privada a participar do Programa Nacional de Produção de Sementes Florestais Nativas implantado pelo Ministério do Meio Ambiente.
Isso significa que as mudas do viveiro possuem identificação com fotografia e qualificação botânica e cada exemplar catalogado teve seu material genético previamente mapeado para evitar a reprodução com grau de parentesco próximo.
"É como se fizéssemos o pedigree das plantas e selecionássemos as mais saudáveis", afirma Carvalho.
Esse trabalho minucioso faz da empresa uma das poucas capacitadas para atender o mercado. Criado no ano passado, o Pacto pela Restauração da Mata Atlântica reúne 34 entidades governamentais, 26 empresas, sete centros de pesquisa e 98 organizações não governamentais cuja meta é repor 15 milhões de hectares de floresta até 2050.
"Fizemos um diagnóstico dos viveiros e constatamos que existe pouca disponibilidade para toda a demanda dos próximos cinco anos", diz Miguel Calmon, coordenador do Pacto.
Segundo afirmou, o primeiro estudo sobre os viveiros, voltado para os estados da Bahia e Espírito Santo, mostrou que eles existem em quantidade, mas muitos são de "fundo de quintal", enquanto outros são administrados por empresas florestais, usinas ou particulares com a produção destinada a consumo próprio.
Entre os que se destacam, o viveiro da Reserva Natural Vale, considerado o maior da América Latina em termos de diversidade, produziu mais de um milhão de mudas no ano passado. Cerca de 210 mil foram destinadas à comercialização.