Notícia
06/05/2020
NA CRISE, TESTAMOS A RESILIÊNCIA
A agricultura brasileira terá lições importantes a tirar da crise. Como grande provedor de alimentos, será importante responder aos anseios de países importadores, que buscarão mais segurança e, quando possível, autossuficiência.
NA CRISE, TESTAMOS A RESILIÊNCIA*
O surgimento repentino do novo coronavírus, que produz enorme estresse no sistema de saúde pública e paralisação da economia ao redor do globo, é ocorrência sem precedentes com a qual todas as nações estão tentando lidar. Para enfrentar os males da pandemia, instituições, governantes, líderes e cidadãos são forçados a redescobrir o valor da cooperação e da generosidade, a compartilhar responsabilidades e a reforçar proteção à vida, enquanto minimizam perdas materiais.
Saúde pública, agricultura e alimentação ganham redobrada atenção em momento tão desafiador, uma vez que são componentes que movem todas as demais engrenagens do complexo sistema chamado sociedade. Falhas e insuficiências nos sistemas alimentares e de saúde pública podem tornar inócuas todas as estratégias de enfrentamento de uma pandemia, pois emergências sanitárias podem ser muitas vezes magnificadas pela insegurança alimentar e pela fome.
É por isso que o fortalecimento da resiliência é tão importante durante a crise e na fase de recuperação dos seus efeitos. Um bom exemplo de resiliência vem do esporte, no salto com vara, instrumento que se verga a um limite extremo sem se quebrar, retornando à sua forma original após lançar o atleta para o alto. De forma semelhante, precisamos de sistemas de saúde e alimentação resilientes, capazes de responder a riscos e estresses, se adaptando com rapidez para superar obstáculos sem rupturas ou desordem.
Uma lição da pandemia é que os seres humanos precisam estar no centro do sistema alimentar, com acesso a alimentos seguros, na quantidade necessária para atravessar períodos de crise e incertezas. Inúmeras nações importam grande parte dos alimentos que consomem, ou dos insumos críticos para sua produção. Dependência excessiva de cadeias globais de suprimentos, que possam sofrer rupturas repentinas, precisará ser revista. E mecanismos de resposta a riscos sistêmicos capazes de interromper fluxos e causar insegurança precisarão ser implementados.
A agricultura brasileira terá lições importantes a tirar da crise. Como grande provedor de alimentos, será importante responder aos anseios de países importadores, que buscarão mais segurança e, quando possível, autossuficiência. E como grande importador de insumos críticos, como fertilizantes, defensivos, equipamentos e componentes diversos, precisaremos fortalecer parcerias, mecanismos de backup, ou mesmo reforçar capacidade interna de produção, para prevenir descontinuidades e rupturas.
Como a pandemia do novo coronavírus é uma zoonose, as interações e dependências entre humanos, animais e a natureza passarão doravante por intenso escrutínio. E a menos que se adote uma nova abordagem para proteger a saúde humana e animal, essa não será a última pandemia que o mundo enfrentará. Assunto de grande interesse para o Brasil, grande produtor e exportador de proteína animal. E oportunidade para unir médicos, agrônomos, veterinários e ecologistas na busca de estratégias mais sistêmicas e consistentes de proteção da saúde humana e animal e dos ecossistemas.
Uma lição dessa pandemia é que a nossa agricultura, por sua dimensão e importância para os brasileiros e para o mundo, precisará sempre exceder em resiliência. Resiliência traduzida em robustez e reconhecimento - para acesso a recursos e apoio, e em mecanismos de backup, redundância e resposta, para rápida recuperação e adaptação a crises, que sempre existirão.
* Maurício Antônio Lopes - Pesquisador da Embrapa. Maio 2020
Fonte: O Autor
Publicidade
Comentário(s) (0)
CIFlorestas disse:
17/01/2021 às 08:53
Nenhum comentário enviado até o momento.